- Titre: (Português) Canal / Kanaal
- Auteur: (Português) André Cepeda
Eduardo Matos - Éditeur: (Português) André Cepeda
Eduardo Matos - Dimensions: (Português) 29,7 x 18,2
- Nombre de pages: (Português) 34 páginas
- Nombre d’exemplaires / tirage: (Português) 100 exemplares
- Date de publication: (Português) 2012
- Lieu: (Português) Bruxelas, Bélgica
- Dépôt légal / ISBN: (Português) n.a.
- Façonnage: (Português) Riso, uma cor (preto).
- Description: (Português) Este projecto, realizado por André Cepeda e Eduardo Matos, é o resultado de uma residência artística no Espace Photographique Contretype em Bruxelas, que decorreu de Abril de 2011 a Janeiro de 2012. Quando nos propusemos trabalhar sobre o Canal industrial de Bruxelas deparamo-nos com uma realidade tão complexa e rica em representações possíveis que sentimos que as hesitações, os recuos e as decisões entretanto tomadas faziam parte de um contexto ele próprio fugidio e flutuante. Fica desde já informado que foi nesta permanente dificuldade que o que agora pode ver se foi estruturando. Nos primeiros dias o nosso trabalho consistiu em percorrer toda a extensão do Canal em Bruxelas. (Texto graciosamente cedido por Eduardo Matos a Tipo.pt)
- Site Web de l’auteur:(Português) http://eduardomatos00.blogspot.com
- Site Web de l’Éditeur:(Português) http://www.andrecepeda.com/
- Notes et références: (Português) Texto de Eduardo Matos publicado no Jornal de exposição - Espace Photographique Contretype: Caro leitor, Antes de entrar no assunto que aqui me traz, permita-me duas notas prévias: este projecto, realizado com o André Cepeda, é o resultado de uma residência artística na Contretype. Como compreenderá, falar pelos dois é uma tarefa ingrata, tanto mais quando se trata de relatar um processo de trabalho que decorreu desde Abril de 2011. Quando nos propusemos trabalhar sobre o Canal deparamo-nos com uma realidade tão complexa e rica em representações possíveis que sentimos que as hesitações, os recuos e as decisões entretanto tomadas faziam parte de um contexto ele próprio fugidio e flutuante. Fica desde já o leitor informado que foi nesta permanente dificuldade que o que agora pode ver se foi estruturando. Nos primeiros dias o nosso trabalho consistiu em percorrer toda a extensão do Canal em Bruxelas. Começamos em Verbrande-Brug, a norte da cidade, uma espécie de lugar mítico que já não existe tal como o conhecemos. Encontramos pessoas que vivem em barcos no Canal, conhecemos o Little Jimmy, um homem da idade de ouro do rock'n’roll e falamos com aquele que se apresentou como “o último capitão do porto”. O progresso estava ali à porta e, em breve, todos os que vivem ali em barcos serão obrigados a partir, explicou-nos: “já não há lugar para nós, para o sonho, para a poesia”... Passamos algum tempo no bairro onde se negoceiam carros - e tudo mais que não se vê mas se adivinha -, e estivemos no Mar do Norte. Mais a sul, entramos de carro pela cidade de Charleroi ao som das guitarras nuas e melancólicas de Neil Young e Earth e por algum tempo vagueamos sem rumo pela cidade. Esta experiência lembrou-nos uma outra viagem que fizemos juntos no sul dos Estados Unidos da América ao longo do rio Mississipi; lembrou-nos a presença da música na paisagem, nos lugares e nas pessoas. Foi assim que se nos apoderou um estranho sentimento de que de alguma forma alguns lugares da Bélgica se assemelham aos Estados Unidos... O Canal é, como aqui o dizem, uma fronteira invisível que atravessa e divide a cidade de Bruxelas. É um extraordinário campo de estudo e experimentação onde os ambientes e a paisagem se vão metamorfoseando na criação de estratos de significação de matriz indecifrável. Mesmo antes de ter cá estado, já imaginava uma paisagem construída e manipulada por muitas camadas de informação. No preciso momento em que escrevo estas palavras, uma grande intervenção tem lugar em toda a sua extensão. Este tipo de estruturas produz uma energia própria, uma rede que altera completamente a paisagem. Uma dupla paisagem artificial, onde o nivelamento, a construção e intervenção urbanística circundante criam uma paisagem moderna fria e pragmática: uma energia impossível de ignorar. De certa forma criamos as nossas expectativas, idéias e visões sobre estas paisagens e estávamos ansiosos por sentir simplesmente a passagem do tempo numa estrutura desta dimensão: o movimento, a velocidade, o ritmo, a repetição. Todas essas coisas que nos distanciam cada vez mais da natureza. Com o tempo surgiram as primeiras imagens. Uma das fotografias do André chamou-me a atenção e posso mesmo dizer que mudou a direcção do nosso trabalho. Nessa imagem vê-se um livro aberto sobre uma mesa de madeira. Quando o observamos, torna-se evidente que o que vemos impresso nessas páginas é um mapa e, com um olhar mais agudo descobrimos que se trata do mapa da cidade de Bruxelas. Na parte inferior da imagem é possível pressentir a textura do chão; na mesa vemos também uma chávena de café vazia e no canto superior esquerdo um outro livro, possivelmente uma enciclopédia. Ainda que representando objectos em concreto, o grau de abstracção inerente a esta imagem acabou por nos colocar perante a evidência nua e crua de que aquilo que certas imagens não dizem sobre si acaba por ser porventura mais decisivo do que aquilo que supostamente se pode contemplar na sua superfície. Sabemos que este projecto elide uma infinidade de coisas que não reparamos, de que não nos demos conta, ou simplesmente não lhe demos qualquer importância. Mas esse olhar para o lado pode determinar, tal como na vida, que o recentramento no que importa acabe por se tornar mais intenso. Nesta exposição imaginamos, então, um lugar onde as imagens e objectos, o som, o vídeo e a performance, resultam num tempo narrativo capaz de valorizar essa expectativa.
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